O chef Rodrigo Oliveira transformou o antigo empório de produtos nordestinos da família num restaurante que perpetua tradições da culinária nacional *
Por Aline Alves
Faltam alguns minutos para o meio-dia e restam poucas mesas vazias no restaurante Mocotó. Nos últimos tempos tem sido assim, principalmente aos finais de semana e neste domingo não será diferente – os 100 lugares desta antiga Casa do Norte, na interiorana Vila Medeiros, na capital paulista, são ocupados rapidamente. O recorde de comensais foi num sábado: 800 pessoas estiveram ali em busca dos pratos do sertão nordestino preparados pelo chef Rodrigo Oliveira.
Revolução das panelas
Se hoje o Mocotó tem três salões, cem lugares e uma equipe de 30 pessoas, é porque Rodrigo Oliveira fez uma pequena – e ousada – revolução ali. “Paulistano de nascimento e pernambucano de pai, mãe e coração”, o chef de 27 anos acompanha de perto rotina do estabelecimento da família desde os 14. Apesar de fazer de tudo no restaurante, a cozinha era o que mais atraía Rodrigo. Sempre quis meter a colher nas panelas, mas o pai não deixava, muito menos queria que o filho “trabalhasse num boteco”.
Quem entra no Mocotó se depara com uma parede repleta de quadros com reportagens, sempre muito positivas. Depois de Josimar Melo, o restaurante já foi visitado pelos principais veículos da imprensa paulistana e por importantes publicações internacionais, como a revista norte-americana Food&Wine, e os jornais El País, da Espanha, e Financial Times, da Inglaterra. O crítico gastronômico do jornal inglês, Nicolas Lander, esteve no Mocotó em novembro de 2007. Num texto sobre a gastronomia paulistana, destaca os mais de 300 tipos de cachaças existentes no restaurante e a “combinação de uma comida amigável, uma equipe sorridente e clientes simplesmente dispostos a se divertir”. Os chefs Mara Salles, Alex Atala e Laurent Suaudeau, referências da gastronomia nacional, também já experimentaram – e se tornaram admiradores da cozinha do Mocotó.
Culinária autêntica
Dezenas de entradas, petiscos, pratos principais, sobremesas, sucos e drinques típicos do sertão do país compõem o cardápio do restaurante. “O torresmo de lá é o melhor do Brasil”, diz Josimar Melo sobre o clássico de nossa culinária especialmente crocante no Mocotó. O prato mais vendido da casa é o baião-de-dois. Outros ícones que conquistam o paladar dos visitantes são a mocofava (caldo de mocotó com favas), o escondidinho de carne-seca, o atolado de bode e a carne-de-sol assada. Para uma refeição ou simplesmente para petiscar saboreando uma das centenas de cachaças de todas as regiões do país, as receitas dali revelam a riqueza dos sabores do interior do Brasil. “Em São Paulo há poucos restaurantes brasileiros. É preciso ter mais chefs com técnica e conhecimento para fazer esse trabalho de perpetuação da cozinha brasileira”, ressalta o crítico de gastronomia.
Entre as sobremesas, se destacam o sorvete de rapadura e a musse de chocolate com cachaça, receitas exclusivas, criadas por Rodrigo Oliveira. “A base da cozinha é toda do meu pai, os cozidos, os ensopados. Fui buscando os ingredientes e colocando a serviço dessa cozinha, com base em tudo o que eu vivi, em pesquisas, na faculdade, em restaurantes. O que faço não é uma releitura, é a evolução natural das coisas. São pratos mais saborosos, mais leves, com porções mais comedidas e explorando o potencial de cada ingrediente”, explica o paulistano sobre sua culinária. Para conhecer ainda mais a cozinha do nordeste do país, há dois anos, o chef fez uma viagem de carro, de São Paulo ao Ceará. Num trajeto em ziguezague, entre o sertão e o litoral, foram 50 dias visitando mercados, feiras, festas e restaurantes.
Mocotó: Av. Nossa Senhora do Loreto, 1.100, Vila Medeiros. São Paulo/SP. Tel. 11 2951-3056